Rosa Gomes, diretora da AAICO ao lado do Cacique da etnia Caiapó, MIKI e sua esposa MAINI em visita à Colares, onde realizaram oficinas de artesanato e participaram de atividades culturais em defesa de seu povo.
A respeito do “descimento” de índigenas de outra região para a Ilha de Colares, realizado pelo Pe. Francisco Veloso, há na obra do Pe. JOÃO FELIPE BETTENDORF (1627-1698) o seguinte registro:
“Francisco Velloso percorreu o Amazonas até o rio Negro, regularisando os casos da servidão, a que estava sendo limitado o captiveiro; depois subiu o Tocantins, donde attrahiu grande leva de Tupinambás e a veio localizar na Ilha do Sol, que tomou o nome daquelle gentio.” (ob. cit., pág. XIX)
O Pe. JOSÉ DE MORAIS, que, reitere-se,conviveu com os nativos de Colares nos primórdios da ocupação estrangeira na Ilha, por volta de 1653, informa-nos a respeito do descimento de tribos indígenas - os tupinambás e goiapires – levados à Colares. a existência de uma fábrica de Anil na Ilha; a concessão de mão-de-obra indígena que foi utilizada na construção da Igreja na Vigia; a ocorrência; de uma epidemia de bexigas e relata importantes informações envolvendo os jesuítas, os nativos e os colonizadores:
“Do rio Jari desceram os nossos padres a que hoje se acha no Curuçá ², com não pequeno trabalho e gastos do colégio, obrigando-se os índios a servirem tão-somente aos padres, pagando-lhes o seu serviço, dando-lhes terra e o mais preciso para as suas lavouras, como fizeram e se tem até o presente conservado, com mútua satisfação de uns e outros, pelo bom trato e assistência que recebem, embora assistam com o seu trabalho com prontidão e alegria.
Neste tempo já os nossos padres tinham em Mamaiacu alguns poucos índios com que lavraran alguma roça para sustento dos religiosos, aos quais depois se ajuntaram alguns poucos tupinambás e goiapires, que tinham descido do rio Tocantins o Padre Francisco Veloso, e quiseram voluntariamente servir aos padres, precedendo primeiro licença do governador, que aprovou a resolução; tendo recebido primeiro para o serviço de el-rei passante de mil almas, como que gloriosamente se recolhia aquele insigne operário, fundando na baía do Sol a aldeia que depois se chamou dos tupinambás ³, e hoje se chama do Anil em razão da fábrica que ali se formou sem efeito; ou com o nome de Cabu, que é o mais trivial e conhecido dos moradores. Estes poucos casais, que tinham vindo com aquele grande descimento, e ido, pelo assim o pedirem os índios ao Padre Veloso, para a nossa fazenda de Mamaiacu, foram depois malsinados pelos invejosos para que se nos tirassem, olhando mais para os poucos com que ficamos que para a grande multidão que tinham às suas ordens, devido à atividade e zelo daquele bom padre, sendo uma das maiores aldeias que tinha Sua Majestade, ao princípio do sítio que foi de José Bento, que depois passou a título de venda aos religiosos das Mercês, chamando-se a aldeia do Espírito Santo, onde havia duas igrejas, como me afirmaram homens antigos, e por causa de uma grande mortandade epidêmica do contagioso mal de bexigas se passou para a costa no lugar que dissemos de Cabu, onde fui algum tempo missionário. Porém o Sereníssimo Sr. D. Pedro, de saudosa memória, mandou no ano de 1685, que os padres os conservassem sem controvérsia, e os governadores não bulissem com eles.
Depois de muitos anos, no de 1729, quis o Governador e Capitão-General Alexandre de Sousa tirá-los, como tirou, pondo-os no Guamá; porém, ou o escrúpulo do receio de contravir às ordens reais os fez logo restituir ao mesmo lugar de Mamaiacu, junto da vila da Vigia, onde ao presente se acham socorrendo com seu serviço ao colégio que, posto que pago, sempre o julgo digno do nosso agradecimento a tão bons e cuidadosos índios.
Dou esta notícia, pelas que tenho diante dos olhos destes princípios, para que os vindouros saibam o título que nos servíamos de tão preciosos obreiros, mas porque ao tempo que fui missionário de Cabu o fui também da aldeia de Tabapará, que por falta de terras em que lavrassem os índios, no lugar antigo, a mudei para quase sobre a costa uma légua por terra distante do antigo sítio, onde fiz igreja e casas novas, com consentimento do Governador e Capitão-Generela João de Abreu Castelo Branco, que a deu a requerimento dos mesmos índios, estando no sítio de Matias Caetano, onde se achava convalescendo, não muito distante de Tabapará (que sem preceder esta licença a não quis mudar); o de que me argüiram os moradores da Vigia, que eu mudara a dita aldeia sem licença do governador, contra as ordens de Sua Majestade, como é verdadeiro que a dita aldéia é do serviço privativo dos pobres, e mais que todos necessitados dos moradores da Vigia, que mudara a dita aldeia sem licença do governador, contra as ordens de Sua Majestade, como é verdadeiro que a dita aldeira é do serviço privativo dos pobres, e mais que todos necessitados moradores da mesma vila, pela descerem à custa da sua fazenda do interior do sertão, para se servirem deles por repartição nas suas necessidades, como fizeram sempre, até que o Governador e Capitão-General Mendonça absoluta e potencialmente os mandiu ajuntar com os índios de Cabu, aldeia do serviço real; destinada para a arrecadação dos dízimos; o que não poderá deixar de redundar em grave prejuízo dos miseráveirs moradores.
E se disserem que quando fui missionário lhes não dava os índios que me pediam, não era por falta de vontade, mas pela penúria dos ditos índios, e ter já dado os poucos que havia para as obras da igreja da milagrosa imagem da Virgem Senhora de Nazaré, por concordata que com seus fregueses fez o reverendo e zeloso vigário, de cederem deles os moradores enquanto durasse a obra, devoção destes fervorosos vigilenses, cujo direito ao serviço dos índios de Tabapará quis perpetuar nesta história, que em todo o tempo poderá recorrer à real piedade de seu rei em orden à antiga utilidade da sua repartição.
Perdoem-me os leitores, por breve, a digressão a que não pude faltar neste lugar, levado da propensão de aclara a verdade àqueles tão necessitados como pobre moradores.” (ob. cit. págs. 226-227)
² Outrora Vila Nova del-Rei
³ Colares.
“Francisco Velloso percorreu o Amazonas até o rio Negro, regularisando os casos da servidão, a que estava sendo limitado o captiveiro; depois subiu o Tocantins, donde attrahiu grande leva de Tupinambás e a veio localizar na Ilha do Sol, que tomou o nome daquelle gentio.” (ob. cit., pág. XIX)
O Pe. JOSÉ DE MORAIS, que, reitere-se,conviveu com os nativos de Colares nos primórdios da ocupação estrangeira na Ilha, por volta de 1653, informa-nos a respeito do descimento de tribos indígenas - os tupinambás e goiapires – levados à Colares. a existência de uma fábrica de Anil na Ilha; a concessão de mão-de-obra indígena que foi utilizada na construção da Igreja na Vigia; a ocorrência; de uma epidemia de bexigas e relata importantes informações envolvendo os jesuítas, os nativos e os colonizadores:
“Do rio Jari desceram os nossos padres a que hoje se acha no Curuçá ², com não pequeno trabalho e gastos do colégio, obrigando-se os índios a servirem tão-somente aos padres, pagando-lhes o seu serviço, dando-lhes terra e o mais preciso para as suas lavouras, como fizeram e se tem até o presente conservado, com mútua satisfação de uns e outros, pelo bom trato e assistência que recebem, embora assistam com o seu trabalho com prontidão e alegria.
Neste tempo já os nossos padres tinham em Mamaiacu alguns poucos índios com que lavraran alguma roça para sustento dos religiosos, aos quais depois se ajuntaram alguns poucos tupinambás e goiapires, que tinham descido do rio Tocantins o Padre Francisco Veloso, e quiseram voluntariamente servir aos padres, precedendo primeiro licença do governador, que aprovou a resolução; tendo recebido primeiro para o serviço de el-rei passante de mil almas, como que gloriosamente se recolhia aquele insigne operário, fundando na baía do Sol a aldeia que depois se chamou dos tupinambás ³, e hoje se chama do Anil em razão da fábrica que ali se formou sem efeito; ou com o nome de Cabu, que é o mais trivial e conhecido dos moradores. Estes poucos casais, que tinham vindo com aquele grande descimento, e ido, pelo assim o pedirem os índios ao Padre Veloso, para a nossa fazenda de Mamaiacu, foram depois malsinados pelos invejosos para que se nos tirassem, olhando mais para os poucos com que ficamos que para a grande multidão que tinham às suas ordens, devido à atividade e zelo daquele bom padre, sendo uma das maiores aldeias que tinha Sua Majestade, ao princípio do sítio que foi de José Bento, que depois passou a título de venda aos religiosos das Mercês, chamando-se a aldeia do Espírito Santo, onde havia duas igrejas, como me afirmaram homens antigos, e por causa de uma grande mortandade epidêmica do contagioso mal de bexigas se passou para a costa no lugar que dissemos de Cabu, onde fui algum tempo missionário. Porém o Sereníssimo Sr. D. Pedro, de saudosa memória, mandou no ano de 1685, que os padres os conservassem sem controvérsia, e os governadores não bulissem com eles.
Depois de muitos anos, no de 1729, quis o Governador e Capitão-General Alexandre de Sousa tirá-los, como tirou, pondo-os no Guamá; porém, ou o escrúpulo do receio de contravir às ordens reais os fez logo restituir ao mesmo lugar de Mamaiacu, junto da vila da Vigia, onde ao presente se acham socorrendo com seu serviço ao colégio que, posto que pago, sempre o julgo digno do nosso agradecimento a tão bons e cuidadosos índios.
Dou esta notícia, pelas que tenho diante dos olhos destes princípios, para que os vindouros saibam o título que nos servíamos de tão preciosos obreiros, mas porque ao tempo que fui missionário de Cabu o fui também da aldeia de Tabapará, que por falta de terras em que lavrassem os índios, no lugar antigo, a mudei para quase sobre a costa uma légua por terra distante do antigo sítio, onde fiz igreja e casas novas, com consentimento do Governador e Capitão-Generela João de Abreu Castelo Branco, que a deu a requerimento dos mesmos índios, estando no sítio de Matias Caetano, onde se achava convalescendo, não muito distante de Tabapará (que sem preceder esta licença a não quis mudar); o de que me argüiram os moradores da Vigia, que eu mudara a dita aldeia sem licença do governador, contra as ordens de Sua Majestade, como é verdadeiro que a dita aldéia é do serviço privativo dos pobres, e mais que todos necessitados dos moradores da Vigia, que mudara a dita aldeia sem licença do governador, contra as ordens de Sua Majestade, como é verdadeiro que a dita aldeira é do serviço privativo dos pobres, e mais que todos necessitados moradores da mesma vila, pela descerem à custa da sua fazenda do interior do sertão, para se servirem deles por repartição nas suas necessidades, como fizeram sempre, até que o Governador e Capitão-General Mendonça absoluta e potencialmente os mandiu ajuntar com os índios de Cabu, aldeia do serviço real; destinada para a arrecadação dos dízimos; o que não poderá deixar de redundar em grave prejuízo dos miseráveirs moradores.
E se disserem que quando fui missionário lhes não dava os índios que me pediam, não era por falta de vontade, mas pela penúria dos ditos índios, e ter já dado os poucos que havia para as obras da igreja da milagrosa imagem da Virgem Senhora de Nazaré, por concordata que com seus fregueses fez o reverendo e zeloso vigário, de cederem deles os moradores enquanto durasse a obra, devoção destes fervorosos vigilenses, cujo direito ao serviço dos índios de Tabapará quis perpetuar nesta história, que em todo o tempo poderá recorrer à real piedade de seu rei em orden à antiga utilidade da sua repartição.
Perdoem-me os leitores, por breve, a digressão a que não pude faltar neste lugar, levado da propensão de aclara a verdade àqueles tão necessitados como pobre moradores.” (ob. cit. págs. 226-227)
² Outrora Vila Nova del-Rei
³ Colares.
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