segunda-feira, 31 de maio de 2010

A PRIMEIRA VILA PORTUGUESA NO PARÁ - VIGIA DE NAZARÉ

O desenvolvimento e consolidação do hoje denominado município de Vigia de Nazaré foi determinante para os rumos da Ilha de Colares. Daí a importância de retratar suas origens.
Os índios Tupinambás habitavam uma aldeia chamada Uruitá (cesto de pedra), onde hoje localiza-se a sede do município da Vigia, referindo-se a denominação indígena, provavelmente às formações rochosas que circundavam a orla da localidade.
Dom Jorge Gomes dos Álamos, fidalgo português foi o primeiro colonizador daquela povoação. Porém, a fundação da vila de São Jorge dos Álamos deve-se ao bandeirante português Estácio Rodrigues, bisavô de Felipe Patroni, segundo o historiador Ernesto Cruz.
Sobre o município da Vigia, o historiador, pesquisador e membro da Academia Paraense de Letras, Professor JOSÉ ILDONE, oferece informações valiosas, que são registradas em sua obra “Noções de História da Vigia” (Belém-PA, Cejup, 1ª . ed., 1991). Em sua obra, consta que:

“O trabalho de Jorge dos Álamos, porém, tinha transformado a simples aldeia num espaço preenchido pelas casas, pequeno templo, arruamento, plantações e estaleiro para construção e recuperação de embarcações”. (ob. cit. pág. 12)
O rei Dom João IV doou as terras à Dom Jorge, porém as mesmas retornaram ao domínio da Corôa após seu embarque para Portugal em 1653.
O Pe. JOSÉ DE MORAIS assim registrou:

“Buscando a cidade do Pará, se segue a vila da Vigia.
Dera o Sereníssimo Senhor D. João IV faculdade a Jorge Gomes Alemo, homem de negócios e de grandes cabedais, para fundar uma vila na Capitania do Pará.
Depois de lhe dar princípio com o nome de Vigia, quebrou no negócio, e não podendo contribuir com os muitos gastos, para acabar o começado, a deixou tão pouco avultada, que reduzindo-a a melhor forma o Governador e Capitão-General Gomes Freire de Andrade, fez com que ficasse pertencendo ao real domínio.
Tem bons ares, e é muito farta de peixe e mariscos, ainda que a sua situação por estar em terra rasa, é notavelmente alagada.
Tem senado, capitão e sargento-mor da ordenança.
Conservam nela os reverendos religiosos do Carmo um hospício, e outro os reverendos religiosos das Mercês.
Tem de mais os padres da Companhia uma grandiosa igreja, com princípio para fundar um colégio por concessão real do Fidelíssimo Senhor D. João V, de eterna memória.
A sua matriz arruinada se erigiu dos fundamentos por ordem do excelentíssimo e zelosíssimo prelado o Senhor D. Frei Miguel de Bulhões, que com particular atividade tem promovido a sua fatura, e se acha ao presente muito adiantada esta obra, formando um bonito e asseado templo de pedra e cal, dedicado a Maria Santíssima debaixo do suavíssimo título de Nossa Senhora de Nazaré. É imagem de suma veneração para aqueles, e todos os mais moradores da cidade do Pará, com um tal respeito e devoção, que são contínuas as romarias, obrigados da singular virtude de seus admiráveis prodígios.” (ob. cit. pág. 140)

Em 21 de março de 1719, foi sagrada a Igreja Madre de Deus, ao mesmo tempo em que, na Capital, era sagrada a Igreja de Santo Alexandre.
A Vigia, teve os foros de vila, em 1693, sendo o patrimônio territorial concedido por Carta de data de Sesmaria de 25 de agosto de 1734.
Com o ato Régio de 11 de maio de 1731, o jesuíta José Lopes, provincial da Ordem foi autorizado a construir uma casa, chamada “Casa Mãe de Deus”, que ensinava a lêr e também ofícios diversos, construida em 1732 foi erigida juntamente com um templo. Este patrimônio, com seus quadros e pinturas de cunho religiosos foram preservados.
A tradição religiosa de culto a Nossa Senhora de Nazaré no Estado do Pará iniciou em Vigia de Nazaré.

RAYMUNDO HERALDO MAUÉS, professor e antropólogo, registra em “Padres, Pajés, Santos e festas - Catolicismo Popular e Controle Eclesiástico - Um estudo antropológico numa área do interior da Amazônia”:

“Possíveis analogias e identificações podem ser postas de lado, mas o certo é que as referências às origens de Vigia, são de modo geral, bastante imprecisas, confundindo-se o “mito” e a “verdade” histórica, o que aliás acontece com vários outros episódios, de modo especial no que se refere à história religiosa do município e da região do Salgado. O próprio posto de vigilância que teria dado origem ao nome da cidade, segundo Raiol, não pôde ser confirmado por nenhuma outra fonte. Todavia Baena (1969, 119)*, cronista do período colonial, escrevendo na primeira metade do século XIX, refere-se a um posto de arrecadação da alfândega, servindo como “soldados de guardas”, na “aldeia dos tupinambás da ilha do Sol” (Colares), para vigiar o extravio de mercadorias dos navios que se dirigissem ao porto de Belém, estabelecido em 1688". (ob. cit. pág. 115, Editora Cejup)

O renomado autor ANTONIO LADISLAU MONTEIRO BAENA (1782-1850) em seu consagrado «Compêndio das Eras da Província do Pará» informa sobre fato ocorrido durante o governo de Gomes Freire de Andrade (1685/1687):

“Estabelece o Governador na Aldea dos Topinambazes da ilha do Sol afastada da Cidade nove legoas um Registro a bem da arrecadaçaõ dos rendimentos da Alfandega servindo os Soldados de Guardas que a bordo dos navios em quantro elles naõ fundeaõ no porto da Cidade vigiem sobre os extravios das mercadorias, que se possaõ intentar em contravençaõ das Leis.” (ob.cit. pág.119. Coleção Amazônica, UFPA, 1969).

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